PANORAMA – UM PEQUENO OLHAR SOBRE “WALKING DEAD”

Imagem

Em cinco dias eu devorei toda carne fresca de Walking Dead.

Finalmente pude conferir a história que é fenômeno de audiência na TV paga brasileira e que é um dos programas da Band de maior repercussão nas redes sociais.

Uma dependência hormonal me levou a assistir quase que ininterruptamente as trinta horas de suas três temporadas e logo nos primeiros capítulos percebi que o que me viciava na história não eram diálogos, arcos narrativos, ou personagens multifacetados. Percebi que nada naquela história me acrescentaria algo que eu já não conhecesse sobre o storytelling americano de ação. Eu assistia à série por uma ridícula e masturbatória necessidade fisiológica de adrenalina. Simples dependência química. Assistia pra sentir medo. Ponto.

O surpreendente é que se os mortos-vivos vazios das duas primeiras temporadas eram  parecidos com os do filme “Extermínio” de Danny Boyle, os vivos-mortos da terceira temporada me soaram como os complexos cegos de “Ensaio Sobre a Cegueira”. Vivos-mortos mesquinhos, bestiais e animalescos. Mortos de humanidade. Cegos de compaixão.

Pra mim a terceira temporada foi de longe a mais interessante da série pelo simples fato de “esfregar na cara” que o egoísmo humano é a verdadeira proposta da história. E a partir daí eu parei de assistir à série pela somente trivial necessidade de adrenalina.
Relegando ainda mais os zumbis à figura de meros coadjuvantes, o terceiro ano deu um bom salto de qualidade nos seus plots e em inúmeros diálogos com os personagens tendo de se organizar e se comunicar para encontrar um meio de conviverem pacificamente. O Rei da Camarata, idealizado por José Saramago, me veio à mente em diversas vezes. Principalmente nas discussões levantadas na guerra entre o grupo de Rick e pelos cidadãos do município liderado pelo Governador.

Foi o melhor ano da série. Apesar do desfecho ter rendido o título de capítulo mais manjado da 3ª temporada (e um dos mais maniqueístas de todo o seriado).

Ainda sobre momentos manjados da série: assim que vocês viram a Andrea logo na primeira temporada também sentiram aquele sentimento premonitório de “AFE …que personagem babaca…pega uma arma e se mata minha filha!”

Sentiram?

Imagem

Curta a página do BLOG “Meme é a Mensagem” no Facebook:

https://www.facebook.com/omemeeamensagem

Siga o omemeeamensagem no twitter: https://twitter.com/omemeeamensagem

PANORAMA – UM JOGO DE TRONOS

Imagem

Se você digitar as palavras “crise” e “Hollywood” em qualquer site de buscas na internet, vai receber como resultado inúmeras entradas para matérias de grandes portais e pequenos blogs avaliando a crise criativa que se abateu sobre os estúdios americanos na última década. Apoiando-se nas muletas dos reboots e remakes, os estúdios de Hollywood têm decepcionado até os mais aficionados cinéfilos. E é só bater o olho nas principais estréias para perceber a razão. A quantidade de adaptações de livros questionáveis, filmes baseados em super-heróis e até filmes que muita gente duvidava que tivesse fôlego para ganhar uma seqüência já são uma trilogia, quadrilogia e por aí vai. Outro fato desanimador: os últimos atores a serem premiados no Oscar tiveram performances maiores que os filmes que estrelavam. O talento monstruoso do irlandês Daniel Day-Lewis pôs em xeque um boçal e modorrento filme cujo protagonista era o aclamado presidente norte-americano Abraham Lincoln. O intérprete irlandês carregou o filme nas costas do início ao fim e não à toa foi pela 3ª vez consagrado com o Oscar de melhor ator. Terceira vez. Um número recorde não visto anteriormente na história da premiação. Já a atriz Jennifer Lawrence embolsou a estatueta de melhor atriz pelo manjado drama “O Lado Bom da Vida” cujo desfecho é tão previsível quanto os “booms” onomatopéicos do próximo trabalho do diretor Michael Bay.           

É unânime entre os especialistas do entretenimento: há um bom tempo Hollywood não tem nenhuma boa novidade. Se o “grande écran” passa por essa fase negativa, o oposto parece acontecer em relação à telinha da TV.

Cada vez mais diretores consagrados, atores e roteiristas do cinema vêm migrando para trabalhos televisivos, o que vem resultando no aumento da qualidade técnica das produções dramatúrgicas na TV.

Um dos recentes seriados a trazer certo frescor para o velho tubo de elétrons televisivo foi Boardwalk Empire, história policial que traz a ágil linguagem do diretor Martin Scorsese ao contar a história da máfia das bebidas alcoólicas durante a Lei Seca nos Estados Unidos (período que contribuiu para a antologia da lenda de Al Capone e ajudou a consolidar outros personagens no imaginário popular norte-americano). Outro programa quase hors-councours que é produto deste salto de qualidade da TV é Mad Men. O seriado narra o cotidiano da agência de publicidade americana Sterling Cooper durante a década de 1950 e oferece para o público a oportunidade de refletir sobre os conflitos éticos e morais da publicidade (em sua fase digamos mais embrionária). No Brasil, esta bola também vem sendo cantada há anos pelo seriado “A Grande Família”: qual a razão de se pagar por bilhetes de cinema que dão direito aos pastelões de Ingrid Guimarães e Bruno Mazzeo quando se tem toda quinta-feira à noite e de graça (olha que maravilha!) um roteiro e uma direção muito melhores?

Orçamentos impensáveis para produções de TV, agora já começam a ser cogitados, como foi o caso de The Pacific (2010), a série de guerra da dupla criativa Steven Spielberg e Tom Hanks (responsáveis pela antológica “Band of Brothers”) que contou com um “budget” cinematográfico de R$ 200 milhões, o maior já gasto em um seriado.

Isto sem mencionar outras séries que vem fazendo bastante barulho junto à crítica e ao público como Modern Family, Homeland, Justified, The Walking Dead, entre outras. Imagem

“A TV hoje é mais interessante do que o cinema” foram as palavras do cineasta brasileiro Fernando Meirelles em recente entrevista ao jornal Folha de São Paulo. Sua produtora, O2 Filmes, cabe lembrar, foi cinco vezes indicada ao Oscar e isto não parece ter impedido sua equipe de enveredar-se pelas telas da TV. Recentemente, a “O2 Filmes” estreou dois projetos televisivos: “Os Contos de Edgar” no canal por assinatura Fox (uma adaptação dos contos de mistério de Edgar Allan Poe) e o mosaico documental “A Verdade de Cada Um” no canal pago Natgeo.

Existe uma trivial questão também que resume esta migração da qualidade audiovisual para a TV e ela se chama “emprego”. O trabalho na televisão é mais constante que o do cinema e isto têm chamado a atenção de profissionais que não encontram mais oportunidades de desempenharem suas profissões numa linguagem cinematográfica tão vazia de novas idéias e ainda assim tão caríssima e complexa de ser produzida. Tanto pela oportunidade de diretores e roteiristas aprofundarem suas histórias em dez ou mais episódios ao invés das duas horas que o cinema permite, quanto pela oportunidade de desenvolver produções tecnicamente impecáveis a custos antes inimagináveis a TV vem sendo a válvula de escape de profissionais que querem encontrar espaço para desenvolverem seu trabalho.

Com a popularização da internet e o maior acesso à informação, o público dos seriados hoje não é o mesmo das sitcoms inocentes e das novelas regadas a drama das décadas passadas. O público hoje, mais bem informado, aceita muito bem o conteúdo forte e reflexivo que essas novas séries têm a oferecer e pelo que tudo indica, quem ganha é o próprio público. O espectador hoje, se tornou um especialista em linguagem audiovisual.

Até mesmo as séries feitas para a internet vêm ganhando cada vez mais qualidade técnica  para conquistar o espaço e o público que este terceiro écran hoje ambiciona.

Os produtores brasileiros ainda estão acordando aos poucos para essa nova realidade que a TV oferece. Com a lei da TV Paga de 2011, que busca incentivar a produção de conteúdo brasileiro para a TV fechada, o mercado nacional de seriados não só aumentou em quantidade, mas também em qualidade. Além das produções recentes da “O2 Filmes” podem ser citados o elogiado seriado “Sessão de Terapia”, dirigido por Selton Mello para o canal GNT (que já foi renovado para uma segunda temporada) e a dramática e ótima “Copa Hotel”, também do mesmo canal, que conta com alguns conhecidos rostos das telenovelas brasileiras.

Neste domingo o canal HBO (a empresa que nos últimos quinze anos deu inveja a muita produtora de cinema de Hollywood) encerrará a terceira temporada de Game of Thrones, baseada na série de livros épicos de George R.R . Martin.

Esta outra pérola da HBO usa a fantasia medieval para divulgar a arquetípica questão de disputa pelo poder, tudo recheado por um conteúdo sexual bastante picante.

E é com uma capciosa pergunta sobre este “jogo dos tronos” que concluímos nosso pensamento:

Quem detém a majestade para poder sentar-se no trono do audiovisual hoje? A televisão ou o cinema?
game of trones

(Texto de Marcela Faysal e Fernando Berenguel)

Curta a página do BLOG “Meme é a Mensagem” no Facebook
Siga o “Meme é a Mensagem” no twitter: https://twitter.com/omemeeamensagem